domingo, 27 de dezembro de 2015

Minha escola limpa e bela


Que nossas escolas sejam limpas e belas! Que nossas aulas sejam momentos de encantamento. Não há porque aborrecer nossos alunos com informações que decoram por obrigação, ou por coação. Que nossos ensinamentos sejam mensagens de esperança de um cada-dia melhor! E que todos os conhecimentos sejam significativos por remeterem a coisas reconhecidas na vida de cada um. Que nossos alunos aprendam, antes de mais nada, a embelezar e a limpar. E por viverem nesses ambientes limpos e belos, saibam preservar a vida pessoal, a vida dos outros e a natureza, sem que nunca seja preciso falar para eles a palavra ecologia. E que essas coisas não dependam só de políticos e de governos, mesmo quando são bons, porque boa parte da política de um país e de seu governo é feita por nós, cidadãos, que parecemos tão pequenos, mas que, juntos, somos tão grandes. Nossos alunos precisam querer voltar no dia seguinte, por terem sido encantados pela aula de hoje. E se abrirmos as portas das classes e os portões da escola, que os alunos não queiram fugir em debandada. E quando chegarem em suas casas, que eles falem com entusiasmo da escola que viveram e até saibam ensinar em casa o que aprenderam na escola limpa e bela. Uma escola tão viva e querida que nunca mais se apague de suas lembranças, e prossiga pela vida afora ensinando-lhes a viver.

domingo, 13 de dezembro de 2015

Correr pode fazer bem



                                                                                               João Batista Freire

            Olha a contradição: quando corremos, seria mais fácil fazê-lo se mantivéssemos nossa consciência voltada somente para as ações de correr, o que é dificílimo. Tento fazer isso e sei que é difícil, porque manter a consciência voltada exclusivamente para algo é uma tarefa que requer disciplina muito rigorosa e um extenso treinamento. O que consigo, depois de muitos anos tentando, é manter por alguns momentos a consciência focada, tanto é que produzi este texto enquanto corria, prova de minha dificuldade de concentração só na corrida, que não é menor que a das demais pessoas que também tentam.
            O problema é que qualquer ação humana consome energia. Faz todo o sentido dizer que, durante uma corrida, ou qualquer outra tarefa muito exigente, qualquer ação fora daquela necessária à corrida consome energia desnecessária. Por exemplo, enquanto corro, se penso neste texto, parte de minha energia será consumido para algo que não é correr. Se durante uma maratona, minha preocupação constante é com a linha de chegada, ou com possibilidades de contusão, etc., parte da energia que deveria ser mobilizada para resistir à maratona será consumida desnecessariamente. Em vez disso, se minha consciência estivesse voltada para cada passo de corrida, ou para os movimentos de meu quadril, ou para minha respiração, por exemplo, toda a minha energia seria mobilizada para a corrida e não para outras coisas.
            Manter a consciência voltada para a ação pode ser entendido como ser capaz de voltar a atenção especificamente para algo e não deixá-la se dispersar. Atenção e consciência não são a mesma coisa. A atenção é o atributo que nos permite focalizar alguma coisa ou mais de alguma coisa ao mesmo tempo, de forma a prendê-la às minhas intenções de lidar com ela. A consciência é um atributo superior, uma espécie de super-atenção, que nos permite tomar distância dos acontecimentos e apreciá-los como se pairássemos sobre ele. É um conhecimento sobre o conhecimento, uma luz que ilumina aquilo que fazemos e o torna claro, compreensível, sob nosso controle.
            Estou falando da corrida, mas poderia falar também sobre o ciclismo ou sobre a natação, por exemplo; não o faço por ter poucas experiências nesses esportes. Sei que, nos treinamentos, quer seja para iniciantes ou para atletas de alto rendimento, investimos muito em força, resistência, nos preocupamos com a alimentação e a hidratação, com a biomecânica dos passos, mas pouco nos preocupamos com a economia dos gestos. E a economia dos gestos diz respeito diretamente à técnica. Técnica, em treinamento esportivo corresponde a economia. De forma que a regra “quanto menos melhor”, aplica-se perfeitamente ao esporte: quantos menos tempo de treinamento, melhor; quando menos gestos, melhor, etc. Desde que os profissionais do esporte compreendam bem o que significa esse “menos”. Quanto melhores forem os treinamentos, menos os corredores precisarão treinar, até porque um dos maiores inimigos do esporte é o excesso de treinamentos com todos os seus consequentes danos à saúde. Sobre o “quanto menos gestos, melhor”, significa que todo movimento em esporte tem que ser limpado, até que tudo que não seja estritamente necessário saia. O movimento limpo é bonito, daí os elogios à beleza dos gestos dos grandes atletas. Deduz-se também que os treinadores podem investir na beleza dos gestos.
            Pois bem, embora o tema renda muitas palavras, não pretendo me alongar muito. Só quero deixar claro que investir na conscientização dos praticantes sobre suas ações é um caminho que pode levar ao sucesso nas corridas, e isso se aplica a todos, exceto em crianças, para não incomodá-las com rigores excessivos enquanto crianças. Não importa se estamos lidando com novatos ou com atletas de alto rendimento, a economia de energia com base na conscientização das ações é uma possibilidade a ser tentada, e, até hoje, raramente tentada.

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Quem são os nossos donos



            Nossos donos são aqueles que destroem os nossos rios, enchendo-os de lama, e depois, nós ainda beijamos seus pés porque eles fazem isso para nos dar os empregos que usamos para morar no meio da lama e comprar alguma comida.
            Nossos donos são aqueles que nós elegemos para fazer os cambalachos que corrompem a alma de nosso país. Às vezes, quando os elegemos, são humildes trabalhadores, mas logo enlouquecem com a visão do poder e do dinheiro, deixam de ser nossos amigos e se tornam amigos dos outros nossos donos, gente poderosa e endinheirada. E o humilde trabalhador que era nosso amigo logo vira nosso dono.
            Nossos donos são donos de televisão, de jornal, de internet, e são eles que dizem como devemos pensar e agir. Eles nos transformam em pessoas odientas e agressivas e nos fazem odiar as coisas que já amamos muito um dia.
            Nossos donos são aqueles que nos deixam doentes e vendem os remédios para curar essas doenças que eles inventaram.
            Nossos donos são aqueles que fazem as coisas ficarem muito caras e nos dão empregos para pagar as coisas caras que eles produzem. São eles que dizem o que temos que comer, como temos que plantar, como temos que colher.
            Nossos donos são aqueles que vendem as nossas praias, as nossas terras, os nossos campos, e nos fazem morar em lugares apertados, muito caros, mas que achamos que é barato e grande, e até agradecemos a oportunidade que nos dão de morar.
            Nossos donos são aqueles que nos emprestam dinheiro e a gente até se surpreende com sua bondade, porque nunca param de nos emprestar dinheiro, por mais que a gente deva a eles.
            Nossos donos são aqueles que nos educam para acreditar que não se deve viver em liberdade, porque viver em liberdade dá muito trabalho e é melhor ter sempre alguém que decida as coisas por nós.
            Nossos donos são aqueles que nos permitem viver e até escrever estas coisas.